300 anos da morte de Luis XIV

O Palácio de Versalhes celebra o tricentenário da morte de Luís XIV com uma exposição que reune relíquias e detalhes curiosos relacionados aos rituais funerários do famoso monarca. O “Rei Sol” morreu em 1º de setembro de 1715 colocando fim ao reinado mais longo e mais glorioso da monarquia francesa. As solenidades funerárias de “Luís O Grande” – como também era conhecido – foram verdadeiros espetáculos barrocos, múltiplas cerimônias, que exaltaram as grandezas do rei defunto.

Durante uma de nossas visitas guiadas no Palácio de Versalhes, mostrei detalhes dessa exposição pelo Snapchat #beminparis e detalho aqui, alguns dos pontos relevantes sobre a morte do emblemático rei, construtor de Versalhes,  testemunho da excelência artística do século XVII, que continua fascinando visitantes de todo o mundo.

Como Luis XIV morreu?

Acamado desde 15 de agosto de 1715, apesar de sua fraqueza e a impotência dos médicos, o rei manteve funções essenciais de sua rotina oficial: missa, audiências com ministros, refeições em público, etc. Acometido de fortes dores na perna, seus médicos lhe diagnosticaram uma gangrena e o fim de seus dias, tornou-se evidente. Nos dias que sucederam, o rei se despediu da família real e de seus oficiais e demonstrou uma serenidade soberana. No dia 1° de setembro, às 8h23, Luis XIV morreu aos 76 anos e todo o Palácio de Versalhes se precipita junto ao seu sucessor, seu bisneto, Luís XV.

Autópsia e embalsamento 

No dia seguinte a sua morte, o cadáver do rei foi aberto, dividido em três partes e embalsamado, durante operação realizada no antiquarto do soberano, com a presença de médicos, cirurgiões e apoticários. No processo verbal de abertura do cadáver  consta que todo o lado esquerdo do corpo, da extremidade do pé até a cabeça do monarca, estava tomado por uma gangrena, possivelmente causada por um diabete. O processo de embalsamento teve início pela extração das vísceras (abdomen, torax e crânio). Em seguida, ele foi depositado em um sarcófago de chumbo, por sua vez envolvido por um caixão de carvalho. Enquanto o sarcófago de chumbo foi devidamente lacrado, o coração foi embalsamado e colocado em dois recipientes, um de chumbo, outro de ouro. Essa repartição do cadáver em três partes (corpo, entranhas e coração) permitia ao defunto ter três lugares distintos de sepultura, costume naquela época muito utilizado pelos soberanos da Europa, tanto para marcar territórios de seus Estados, quanto para homenagear as intituições pelas quais eram acolhidos.

A exposição do corpo do Rei

A exposição do soberano defunto em seu palácio para receber as últimas honras é um momento essencial durante os rituais funerários reais.  O corpo de Luís XIV foi apresentado ao público unicamente no dia de sua morte. Mais tarde, no salão de Mercúrio, foram expostos o sarcófago e o relicário contendo o coração, ambos cobertos por uma coroa. Nos salões adjacentes, o salão de Marte foi reservado para a Música do Rei e o salão de Apolo, serviu de sacristia, onde 72 eclesiásticos se revezaram para recitar missas, orações e Requiem nos quatro altares instalados em seu aposento. Na Alcôva, os oficiais do rei assistiram ao desfile das últimas visitas fúnebres, príncipes, cortesãos e delegações oficiais. O duplo esquife de Luís XIV foi velado por oito dias, de 2 a 9 de setembro.

Contrariando o costume, não foi produzida nenhuma efígie sua. Segundo uma tradição romana retomada pelos ingleses, costumava-se confeccionar um boneco de palha representando o rei morto. Munida dos moldes em cera do rosto e das mãos do defunto, a figura era trajada e colocada sentada na cama, onde “recebia” as visitas fúnebres. Ao cair da noite de 9 de setembro de 1715, a procissão fúnebre com um cortejo de 2500 pessoas se dirigiu do palácio até a Abadia de Saint Denis (hoje, Basílica), necrópole dos reis franceses, situada ao norte de Paris. Com a Revolução Francesa, os mausoléus dos reis da França foram violados.

O luto na Corte

A vida da Corte no Palácio de Versalhes foi regida pelo estrito protocolo instituído por Luis XIV, que também instituiu o protocolo do luto oficial, estendido a todos os membros de sua família, até parentes de terceiro grau, bem como aos soberanos estrangeiros, parentes ou aliados (lutos diplomáticos, ditos “lutos da Corte”). Somente o rei ditava quem podia portar que tipo de traje de luto: quanto mais elevado o status, mais longa era a cauda que o pranteador podia arrastar atrás de si. Para os mais distinguidos, essa parte da vestimenta chegava a alcançar cinco metros de comprimento. O cadáver de Luís XIV foi trajado de lilás, em vez do preto usual, em uma mensagem tão paradoxal quanto explícita: mesmo que os reis morram, o rei é imortal.

Quem vestia preto eram os convidados que, um a um, iam aspergir água benta sobre a cabeça do morto. Certas dependências de Versalhes foram cobertas de preto, assim como as carruagens do cortejo. A cor valia também para os criados e os cavalos.

Luis XIV deixou a vida assim como nasceu : com um grande evento público.

“Le roi mort”  é certamente uma das exposições mais interessantes já realizadas no Palácio de Versalhes e poderá ser vista até 21 de fevereiro de 2016.

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Edis Lima

Guia Cultural e Life Coach credenciada na França. Fundadora e Diretora da Bem in Paris, apaixonada por compartilhar sobre arte e cultura francesa.
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